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An image showing the connection between Monica and Ryu. Each character is shown drawn on a black circle on a white background. The connections are made with black arrows and their names are also written in black. The connection goes: Monica through Monica no Castelo do Dragao to Meka Dragon through Wonder Boy in Monster land to Book through Monster Bou and the Cursed Kingdom to Wonder Boy through Wonder Boy to Tina through Adventure Island to Master Higgins through DreamMix TV World Fighters through Solid Snake through Super Smash Bros. Ultimate to Ryu.
Mônica, o famoso personagem dos quadrinhos brasileiros, tem um número de Ryu de 7.

Descobrir isso foi bem difícil, e os resultados são discutíveis.

Se você não sabe o que é um número de Ryu, você pode olhar no subreddit, no tumblr, ou no Twitter, sendo que as regras que eu estou usando vêm deste último. Mas basicamente: números de Ryu são um jogo/conceito/atividade/perda de tempo em que tenta-se conectar personagens de videogames através de participações especiais e cameos para o Ryu. O número é a quantidade de jogos que precisam ser citados até uma conexão com o Ryu. Um personagem que esteja no mesmo jogo tem um número de 1; um que esteja no mesmo jogo que um personagem que divida um jogo com o Ryu tem um número de 2, e assim por diante.

Eu adoro esta babaquice. É, ao mesmo tempo, adorável e revoltante. É adorável porque mostra como há conexões entre todas as coisas, e como a nossa cultura é uma sopa gigantesca de referências, e como companhias podem passar por cima de rivalidades e se aproximar para fazer algo divertido. É revoltante porque você logo percebe que você descobre que os grandes pilares da atividade são mostrosidades gigantescas do tipo da Disney que são o dono de tudo sobre o que seus terríveis olhos pousam. Eu ainda acho bem legal.

Uma coisa engraçada sobre os números de Ryu é que eles tendem a ser ou muito pequenos, ou infinitos. Provavelmente, a vasta maioria dos personagens de jogos não têm nenhum número de Ryu, simplesmente porque não têm nenhum cameo em seus jogos, ou pelo menos nenhum que os ligue ao universo maior de obras. (Um exemplo surpreendente disso é a Hat Kid, protagonista de A Hat in Time). Por outro lado, se existe uma conexão ao Ryu, ela provavelmente será muito pequena, pois normalmente ela passará por uma rede densa de ligações, que impede que haja muitas paradas no caminho mais rápido.

Todo mundo que procura números de Ryu está sempre procurando por uma conexão interessante, e eu não sou uma exceção. Como eu sou brasileiro, tentei achar personagens brasileiros que ligam ao Ruy, mas não tive frutos nessa empreitada. Eu não estou falando de pequenos fenômenos indie, estou procurando coisas grandes da cultura mainstream. Coisas tipo a Turma da Mônica.

Eu provavelmente não preciso explicar quem é a Turma da Mônica na versão em português deste texto, como eu fiz em inglês. E ela tem videogames: dois foram lançados para o Master System (pra quem é mais novo, é um console produzido pela SEGA nos anos oitenta, que fez muito sucesso por aqui, quando consoles estrangeiros como o Nintendinho não podiam ser lançados oficialmente) e alguns jogos multi-plataformas bem mais recentes. Mas, infelizmente, eles pareciam estar exatamente no padrão para personagens que não são nativos dos games: seus jogos tinham vários personagens, mas ninguém fora de sua própria propriedade intelectual, e nem tampouco eles apareciam em outros jogos. O copyright é um amo maligno. Parecia que minha busca não levaria a lugar nenhum.

Mas aí...

Bem. Existe uma regra no Twitter do número de Ryu que diz que os personagens precisam ser identificáveis, se não necessariamente pelo nome, pela aparência. Por exemplo, se um zumbi gigantesco com parafusos no pescoço se levantar de uma mesa ao ser atingido por relâmpagos, ele provavelmente contaria como uma ocorrência da Criatura de Frankenstein, o que seria uma ligação válida ao Ryu (uma criatura dessas aparece no Super Smash Bros. Ultimate.) (E sim, eu sei a a criatura no livro é completamente diferente; esse não é o ponto.)

O que isso tem a ver com a Mônica? Bom, isso está relacionado com a outra dúvida que você deve ter tido enquanto lia este artigo: como é que um personagem de uma HQ brasileira apareceu em um jogo de videogame no começo dos anos noventa, quando o mercado de computadores estava praticamente limitado no eixo Japão-EUA-Europa? A resposta é que ela... não apareceu. O jogo Mônica no Castelo do Dragão, lançado em 1991 para o Master System, não foi criado do nada: é uma localização do jogo Wonder Boy in Monster Land, lançado no Japão em 1987. Todo o diálogo foi modificado, e o herói for substituído por nossa criança de seis anos bizarramente forte favorita, mas literalmente todo o resto é igual.

E você sabe o que dizem: se uma coisa se parece o o chefe final do jogo Wonder Boy in Monster Land, Meka Dragon, e anda como o Meka Dragon, e joga bolas de fogo triplas como o Meka Dragon, é o Meka Dragon.

Temos uma conexão.

A comparison between the games Monica no Castelo do Dragao and Wonder Boy in Monster Land. Both screens show a character in a metallic blue chamber, being attacked by a metallic dragon. The image in the left, from Wonder Boy, shows an armored knight holding a sword, while the image in the right shows Monica in a blue dress holding her stuffed bunny

Essa descoberta me encheu de esperança. A franquia Wonder Boy é bem grande, e teve inúmeras entradas. Eu tinha certeza de que encontraria uma conexão entre seus muitos protagonistas e o mundo dos jogos em geral.

Não encontrei.

Sim, há muitos jogos na franquia Wonder Boy, mas eles não eram muito diferentes da Turma da Mônica, tendo referências somente a seus próprios personagens e nunca tendo tido uma participação em outra séria. Apesar da minha esperteza, parecia que tinha sido tempo perdido. Eu pude conectar a Mônica a uma série pouco conhecida de jogos de plataforma japoneses, mas a linha acabava lá. Eu não tinha mais para onde prosseguir. Um relâmpago não cai duas vezes no mesmo lugar.

Você sabia que isso é mentira? Tem lugares em que relâmpagos caem dúzias de vezes por ano. E um desenvolvedor que licenciou um jogo para criar uma localização completamente diferente não fez isso só uma vez.

Em 1986, a desenvolvedora japonesa Hudson decidiu fazer um port do primeiro jogo da franquia Wonder Boy (que se chama só Wonder Boy) para o Famicon, o Nintendinho japonês original. Entretanto, em algum momento do desenvolvimento, eles mudaram de ideia e transformaram o jogo em uma outra franquia própria deles, Adventure Island. Na minha cabeça isso aconteceu quando eles perceberam que o jogo que eles tinham pego tinha um power-up que era um skate, completo com capacete e joelheiras, e não era a fantasia medieval que prometia ser. Seja qual for a razão, o jogo Adventure Island era uma versão de Wonder Boy na mesma linha que Mônica no Castelo do Dragão: o personagem principal foi mudado, mas os níveis não. O que significa que podemos usar a mesma manobra de antes e conectar os jogos usando um dos inimigos, certo?

Infelizmente, não. Ao contrário do jogo da Mônica, que era uma simples localização, Adventure Island é um port para um console diferente, com capacidades gráficas diferentes. Apesar dos níveis dos dois jogos serem os mesmos, eles não são nem de longe tão idênticos quanto o jogo da Mônica é ao original. Para deixar o caso mais difícil ainda, todos os chefes de fase dos jogos são um só inimigo, usando máscaras diferentes que lhe dão poderes diferentes. Esse inimigo se chama King no Wonder Boy e Evil Witch Doctor no Adventure Island, e enquanto eu acho que não é impossível que uma mesma pessoa tenha esses dois títulos (e, na verdade, ser rei deve facilitar muito sua carreira como bruxão malvado) seria muito forçado dizer que eles são o mesmo personagem. Compare as telas abaixo: as duas são da mesma seção, mas o inimigo nem parece estar usando a mesma máscara.


A comparison between the games Wonder Boy and Adventure Island. Both screens show a small man jumping in a brick castle, standing next to a tall man in a toga, wearing a mask and bracelets on his wrists and ankles. The tall man in the first screenshot is wearing a black bird magic, while the man in the second screenshot us wearing a rhino mask, and the protagonist wears a white cap. The images are different enough that one can tell they are for different consoles with different graphical capabilities.

Então, quer dizer que perdemos? Descobrimos uma conexão, só para ter que descartá-la? Não. Há uma saída - causa por um erro dos desenvolvedores. Nas duas versões do jogo, o protagonista tem que salvar uma donzela das garras do vilão, como era o costume da época. Wonder Boy quer resgatar sua namorada Tina, enquanto que Master Higgins, o protagonista de Adventure Island, quer resgatar a Princesa Leilani. Só que a Princesa Leilani só é mencionada com esse nome no manual; no jogo em si, o nome dela ainda aparece como Tina.

Se parece uma Tina, foi sequestrada como uma Tina, e é chamada de Tina pelo jogo, é o mesmo personagem, Tina é a conexão entre os dois jogos.

(Neste momento, tive que procurar uma conexão dentro da própria série Wonder Boy, já que o Boy titular só é o protagonista do jogo que tem o seu nome, e a série que gerou os jogos da Mônica têm um protagonista diferente: Book, que presumivelmente gostava tanto de livros que mudou o próprio nome. Por sorte, eu fui salvo de ter que mergulhar na lore de Wonder Boy caçando personagens ancilares por um revival da série que recebeu financiamento coletivo em 2018, o jogo Monster Boy in the Cursed Kingdom, no qual os dois protagonistas aparecem brevemente. Não é de amar um financiamento coletivo? Eu amo tanto que vou colocar um link para o Catarse da revista em que eu sou um editor, que publica contos de fantasia e ficção científica em inglês e português! E se você ganha em dólar tem um Patreon também! Uau!)

Bom, agora estou esperançoso. A desenvolvedora de Adventure Island, Hudson, é moderadamente importante na indústria japonesa de games atual; inclusive, são os criadores da série Smash Bros., que já forneceu muitas conexões para os números de Ryu. Eu tinha certeza de que acharia uma conexão através deles.

E eu achei, através do jogo DreamMix TV World Fighters. Tipo, já teve dois plot twists nesse artigo, você estava seriamente esperando um terceiro? Apesar de que o DreamMix é o próprio plot twist - é um jogo de luta de plataforma criado para celebrar a união de três empresas, Hudson, Konami, e Tanaka, este último sendo um fabricante de brinquedos que permitiu a inclusão do Megatron e de um carinha da série Beyblade. Quando eu achei essa conexão pela primeira vez achei esse jogo estranho, mas no presente existe um jogo de luta que inclui a Mulher Maravilha, o Salsicha do Scooby Doo, Finn & Jake da Hora de Aventura e Arya do Game of Thrones. Se você parar pra pensar, esse jogo foi um precursor, isso sim. A presença dos personagens da Konami me permite até escolher qual personagem do Smash Bros. eu vou usar para fazer a conexão final, já que Simon Belmont e Solid Snake estão ambos no DreamMix; escolhi o último para variar os gêneros um pouquinho.

E é assim que a Mônica tem um número de Ryu de 7.

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