Uma Newsletter do Passado
Aug. 26th, 2021 07:22 pmPrimeiro: eu não gostaria que esse fosse o primeiro post em português do meu blague, mas o universo ri de nossos planos.
Segundo: a história a seguir é real. Eu sei que parece um frame borgesiano para amplificar um texto, e garanto a todos vocês que eu absolutamente faria algo assim, mas, nesse caso específico, é real.
Ultimamente, vários dos meus amigos decidiram lançar newsletters. Eu tinha tido uma ideia de lançar uma também, faz muito tempo, mas nunca tinha escrito nada... ou pelo menos era isso que eu pensava. Quando eu entrei na minha conta antiga da newsletter, descobri que tinha um tremendo artigo sobre conlangs (sabe, línguas artificiais, que nem o esperanto e o klingon), escrito e jamais lançado.
O motivo dele nunca ter sido lançado é simples: ele era apenas um preâmbulo para uma piada em que eu julgava as frases que você usaria para apresentar a sua conlang. Você usaria o Pai Nosso? Um trecho da Declaração Universal dos Direitos Humanos? A própria visão de mundo que você busca com a sua conlang? A frase "eu posso comer vidro, não me machuca"? Eu iria julgar cada uma dessas opções com piadas magníficas e notável fantasia, mas, helás! Esqueci-me completamente da piada que iria fazer, e fiquei só com o preâmbulo. Felizmente (ou não), sou prolixo o suficiente para que o preâmbulo talvez satisfaça.
Deixo vocês, daqui em diante, com o André do passado. O nome deste rascunho incompleto, salvo na minha newsletter, era Julho 2019 - Conlangs & Caminhões. Não faço ideia de onde os caminhões entrariam. Pela entrada de carga, geralmente.
***
Como Fazer Sua Própria Língua
Neste mês eu li In The Land of Invented Languages, da Arika Okrent. Sempre fui um pouco fascinado por línguas artificiais - normalmente conhecidas por conlangs, uma abreviação para constructed languages, linguagens construídas. Imagino que a maior parte das pessoas que estão lendo esta newsletter são nerds enormes e portanto sabem que O Senhor dos Anéis foi criado apenas para que Tolkien tivesse um mundo para uma língua que ele tinha inventado por hobby, o Quenya (mais conhecido como Élfico), já que ele era um linguista e abominava uma linguagem que existisse em um vácuo. Se Tolkien não fosse tão nerd, não teria escrito O Senhor dos Anéis, o que significaria que a maior influência moderna na fantasia medieval deixaria de existir. Como seria esse mundo? Talvez a fantasia medieval, tendo como maiores influências as histórias de Fafhrd e Gray Mouser, de Fritz Liber, e o Conan, do Robert E. Howard (que, OK, não são medievais), tivesse tido menos a ideia do bem contra o mal e fosse considerada menos simplista. Ou talvez tivesse deixado de existir. Outra influência, maior ainda: sem O Senhor dos Anéis, garanto que não exisitiria Dungeons & Dragons. Sem ele, talvez não tivéssemos o RPG de mesa... ou talvez sem este beemote ocupando a sala teríamos sistemas mais variados e mais conhecidos. Quem sabe?
Mencionei em um grupo que eu tinha comprado esse livro, e alguém mencionou um outro livro sobre criação de línguas artificiais. Naquele livro eu não tenho interesse. Existem pessoas que pagam linguistas para criar línguas novas para suas histórias de fantasia e ficção científica, e, bem, isso me parece um enorme desperdício. Existem mais de mil línguas artificiais no mundo, algumas com comunidades pequenas de falantes que adoram sua cria. Pra que criar outra? Pague alguns desses hobbistas para traduzirem o seu texto pra língua deles. Eles vão ficar com estrelinhas nos olhos e trabalhar por alegria. Eu já tinha essa ideia faz tempo, e quando descobri que a 'língua lunar' usada na excelente HQ Saga era, na verdade, o esperanto, soube que estava certo. Você vai brigar com o Brian K. Vaughan, vagabundo?
(Mas o maior problema de criar uma língua artificial, na minha opinião, é o vocabulário. De onde você vai tirar as palavras? Se você usar uma outra língua como base, sua língua fica enviesada, e fica mais parecida com um dialeto do que com uma língua. Mas de onde mais você pode tirar um vocabulário? A 'língua lógica' Loglan e sua prima open source Lojban (longa história, brevemente discutida no livro da Okrent) utilizou análise do vocabulário de todas as línguas conhecidas para tentar isolar as maneiras mais comuns de falar cada conceito, tentando assim criar uma língua que é igualmente familiar para qualquer falante do mundo. Mas inventar uma língua já é coisa de doido; fazer uma análise dessa é uma coisa de doido embrulhada numa coisa de doido maior.)
Mas na verdade eu estava pensando em outra coisa. No fim do livro, Okrent cita dezenas de línguas, com uma frase para exemplo. Se você tivesse inventado sua língua, que frase você usaria?
Era sobre isso que eu queria escrever. [Nota do André do presente: Mas não escrevi.]
Que frase usar para dar um exemplo da sua conlang?
Ideia 1: Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome
Vantagens: Essa é uma frase muito antiga, e extremamente comum na civilização ocidental, que inclui metade do planeta (é isso que 'ocidental' significa). Isso significa que a maior parte as pessoas vai saber o que isso significa, além de talvez até saber essa frase em outras línguas. Além disso, a maior parte das línguas inventadas mais antigas usam essa frase como exemplo, então você vai estar fazendo parte de uma grande tradição. Uma das línguas
[o texto termina abruptamente neste ponto]
Segundo: a história a seguir é real. Eu sei que parece um frame borgesiano para amplificar um texto, e garanto a todos vocês que eu absolutamente faria algo assim, mas, nesse caso específico, é real.
Ultimamente, vários dos meus amigos decidiram lançar newsletters. Eu tinha tido uma ideia de lançar uma também, faz muito tempo, mas nunca tinha escrito nada... ou pelo menos era isso que eu pensava. Quando eu entrei na minha conta antiga da newsletter, descobri que tinha um tremendo artigo sobre conlangs (sabe, línguas artificiais, que nem o esperanto e o klingon), escrito e jamais lançado.
O motivo dele nunca ter sido lançado é simples: ele era apenas um preâmbulo para uma piada em que eu julgava as frases que você usaria para apresentar a sua conlang. Você usaria o Pai Nosso? Um trecho da Declaração Universal dos Direitos Humanos? A própria visão de mundo que você busca com a sua conlang? A frase "eu posso comer vidro, não me machuca"? Eu iria julgar cada uma dessas opções com piadas magníficas e notável fantasia, mas, helás! Esqueci-me completamente da piada que iria fazer, e fiquei só com o preâmbulo. Felizmente (ou não), sou prolixo o suficiente para que o preâmbulo talvez satisfaça.
Deixo vocês, daqui em diante, com o André do passado. O nome deste rascunho incompleto, salvo na minha newsletter, era Julho 2019 - Conlangs & Caminhões. Não faço ideia de onde os caminhões entrariam. Pela entrada de carga, geralmente.
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Como Fazer Sua Própria Língua
Neste mês eu li In The Land of Invented Languages, da Arika Okrent. Sempre fui um pouco fascinado por línguas artificiais - normalmente conhecidas por conlangs, uma abreviação para constructed languages, linguagens construídas. Imagino que a maior parte das pessoas que estão lendo esta newsletter são nerds enormes e portanto sabem que O Senhor dos Anéis foi criado apenas para que Tolkien tivesse um mundo para uma língua que ele tinha inventado por hobby, o Quenya (mais conhecido como Élfico), já que ele era um linguista e abominava uma linguagem que existisse em um vácuo. Se Tolkien não fosse tão nerd, não teria escrito O Senhor dos Anéis, o que significaria que a maior influência moderna na fantasia medieval deixaria de existir. Como seria esse mundo? Talvez a fantasia medieval, tendo como maiores influências as histórias de Fafhrd e Gray Mouser, de Fritz Liber, e o Conan, do Robert E. Howard (que, OK, não são medievais), tivesse tido menos a ideia do bem contra o mal e fosse considerada menos simplista. Ou talvez tivesse deixado de existir. Outra influência, maior ainda: sem O Senhor dos Anéis, garanto que não exisitiria Dungeons & Dragons. Sem ele, talvez não tivéssemos o RPG de mesa... ou talvez sem este beemote ocupando a sala teríamos sistemas mais variados e mais conhecidos. Quem sabe?
Mencionei em um grupo que eu tinha comprado esse livro, e alguém mencionou um outro livro sobre criação de línguas artificiais. Naquele livro eu não tenho interesse. Existem pessoas que pagam linguistas para criar línguas novas para suas histórias de fantasia e ficção científica, e, bem, isso me parece um enorme desperdício. Existem mais de mil línguas artificiais no mundo, algumas com comunidades pequenas de falantes que adoram sua cria. Pra que criar outra? Pague alguns desses hobbistas para traduzirem o seu texto pra língua deles. Eles vão ficar com estrelinhas nos olhos e trabalhar por alegria. Eu já tinha essa ideia faz tempo, e quando descobri que a 'língua lunar' usada na excelente HQ Saga era, na verdade, o esperanto, soube que estava certo. Você vai brigar com o Brian K. Vaughan, vagabundo?
(Mas o maior problema de criar uma língua artificial, na minha opinião, é o vocabulário. De onde você vai tirar as palavras? Se você usar uma outra língua como base, sua língua fica enviesada, e fica mais parecida com um dialeto do que com uma língua. Mas de onde mais você pode tirar um vocabulário? A 'língua lógica' Loglan e sua prima open source Lojban (longa história, brevemente discutida no livro da Okrent) utilizou análise do vocabulário de todas as línguas conhecidas para tentar isolar as maneiras mais comuns de falar cada conceito, tentando assim criar uma língua que é igualmente familiar para qualquer falante do mundo. Mas inventar uma língua já é coisa de doido; fazer uma análise dessa é uma coisa de doido embrulhada numa coisa de doido maior.)
Mas na verdade eu estava pensando em outra coisa. No fim do livro, Okrent cita dezenas de línguas, com uma frase para exemplo. Se você tivesse inventado sua língua, que frase você usaria?
Era sobre isso que eu queria escrever. [Nota do André do presente: Mas não escrevi.]
Que frase usar para dar um exemplo da sua conlang?
Ideia 1: Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome
Vantagens: Essa é uma frase muito antiga, e extremamente comum na civilização ocidental, que inclui metade do planeta (é isso que 'ocidental' significa). Isso significa que a maior parte as pessoas vai saber o que isso significa, além de talvez até saber essa frase em outras línguas. Além disso, a maior parte das línguas inventadas mais antigas usam essa frase como exemplo, então você vai estar fazendo parte de uma grande tradição. Uma das línguas
[o texto termina abruptamente neste ponto]